
O diagnóstico feito pelos especialistas noruegueses a Anders Behring Breivik não é linear para os psiquiatras portugueses ouvidos pelo PÚBLICO. Para o psiquiatra Pedro Varandas, o perfil do autor confesso dos atentados na Noruega encaixa-se no que se domina um "psicopata frio". Já o presidente do Colégio da Especialidade de Psiquiatria da Ordem dos Médicos, João Marques Teixeira, alerta que uma "esquizofrenia paranóide" não significa por si só que seja inimputável.
O homem que, em Julho, matou na Noruega 77 pessoas, maioritariamente jovens, vive num "universo delirante", que lhe permite pensar que pode decidir "quem pode viver e quem pode morrer". As conclusões de psiquiatras nomeados pelo tribunal de Oslo, divulgadas na terça-feira, podem fazer com que Anders Behring Breivik seja declarado inimputável. Em vez de ser condenado à prisão, deverá ser internado numa instituição de saúde.
Segundo as conclusões da avaliação clínica, Breivik é um psicótico que, com o tempo, desenvolveu uma "esquizofrenia paranóide" que teria alterado o seu juízo antes e durante os ataques, afirmou ontem Svein Holden, procurador do Ministério Público da Noruega, num encontro com a imprensa, relatado pelas agências de notícias. "Ele vive no seu próprio universo delirante e os seus pensamentos e actos são regidos por esse universo", disse.
O autor confesso do massacre deve ter de responder em tribunal – o julgamento tem início previsto para 16 de Abril próximo e pode prolongar-se por dez semanas. Mas o sistema penal norueguês privilegia a reabilitação e o mais provável é que não seja condenado a pena de prisão. Caso fosse sentenciado, o assassino incorria numa pena de 21 anos de prisão, o máximo previsto.
“Minúcia e planeamento”
Contactado pelo PÚBLICO, Pedro Varandas, da direcção da Clínica Psiquiátrica de São José, ressalvando que só uma avaliação directa permitiria fazer um diagnóstico, mostra-se, contudo, surpreendido com o relatório dos especialistas noruegueses. Para o psiquiatra, "Breivik não parece ter uma esquizofrenia, devido à sua capacidade de minúcia e planeamento". "A esquizofrenia deteriora o indivíduo até em termos cognitivos. Uma pessoa com esquizofrenia age muito mais por impulso", defende, em linha com a reacção de alguns especialistas internacionais.
Assim, Pedro Varandas avança com três possíveis diagnósticos: a perturbação anti-social da personalidade, que afecta sobretudo homens e que é associada à figura do serial killer, também conhecidos como "psicopatas frios" pela extraordinária violência dos actos; a perturbação paranóide da personalidade, onde os indivíduos são permanentemente desconfiados e vão atribuindo culpas por diferentes actos e perseguindo os que consideram culpados; e a psicose paranóide, com semelhanças com o segundo diagnóstico, mas onde há o factor delírio de forma mais acentuada e o contexto de uma crença inabalável.
Em qualquer dos casos, o indivíduo pode ter "uma visão messiânica" da sua pessoa, sendo que, do que leu sobre o caso Breivik, Varandas aponta mais para o primeiro, até pela preocupação demonstrada com os detalhes e pela frieza com que no local do crime juntou o grupo de jovens e escolheu quem quis matar primeiro.
Eram 15h26 do dia 22 de Julho quando uma bomba explodiu em Oslo, atingindo vários edifícios onde dezenas de pessoas ficaram presas. O ataque tinha sido anunciado num manifesto de mais de 1500 páginas escrito por Breivik e colocado na Internet horas antes dos ataques e que levara nove anos a preparar. Às 17h25, surgem relatos de tiros vindos da ilha de Utoya, onde decorria um acampamento de jovens do Partido Trabalhista, no poder. A equipa especial antiterrorismo chega a Utoya mais de uma hora depois do atirador, disfarçado de polícia, ter desembarcado de um ferry na ilha. Durante esse tempo disparou sobre dezenas e dezenas de jovens, com balas modificadas para maximizar o número de vítimas.
Matéria completa disponível em http://www.publico.pt/Sociedade/psiquiatras-portugueses-com-duvidas-sobre-diagnostico-de-breivik-1523229