quinta-feira, 13 de outubro de 2011
ATIRADOR DO SHOPPING MORUMBI
O psicopata pode ser considerado inimputável no Brasil?? Não!! Mas não é o que está acontecendo, vejam o recente caso do ex-estudante de medicina Mateus da Costa Meira, condenado por assassinar três pessoas num cinema em São Paulo em 1999, foi considerado inimputável (que não pode ser considerado responsável pelos atos) no julgamento ocorrido nesta terça-feira em que era acusado de tentar matar seu companheiro de cela em maio de 2009, na Bahia. Ele já foi submetido ao teste criado por uma das maiores autoridades em psicopatia do mundo o psicólogo canadense Robert D. Hare, o qual é criador do método PCL-R.
Hare criou o método mais célebre para descobrir quem é psicopata, conhecido pela sigla PCL-R (“lista de verificação de psicopatia”, na tradução do inglês). A lista tem 20 itens, que servem para examinar a ocorrência de problemas como ausência de remorso ou culpa, mentira patológica e versatilidade criminal. Um psiquiatra ou psicólogo treinados pontuam cada um dos itens. A soma de todos determina o diagnóstico, cujo resultado é expresso numa escala de 0 a 40 pontos (leia o gráfico abaixo) . Essa ferramenta é usada em países como Inglaterra, Alemanha, Canadá e Estados Unidos. Também foi usada pelos neurologistas Ricardo de Oliveira Souza e Jorge Moll Neto em pacientes do hospital da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) para selecionar os participantes de uma pesquisa conduzida por eles. Os psicopatas estudados pelos neurologistas, no entanto, não são prisioneiros nem criminosos perigosos. São pessoas que costumam adotar atitudes consideradas antiéticas e arriscadas, como passar cheques sem fundo, dirigir em alta velocidade e abusar do consumo de drogas. O objetivo era demonstrar que, embora tenham mais predisposição, nem todos os psicopatas se tornam homicidas.
Dois assassinos célebres do Brasil já foram submetidos ao teste de Hare. O primeiro é Mateus da Costa Meira. Em 1999, esse ex-estudante de medicina metralhou três pessoas e feriu outras quatro numa sala de cinema de um shopping paulistano. Ele não manifestou remorso. “Colegas psiquiatras me contaram que o Mateus lamentou ter cometido o crime antes de se formar na faculdade, já que, como médico, teria direito à prisão especial”, diz o psiquiatra forense José Geraldo Taborda. O outro assassino foi Francisco de Assis Pereira, conhecido como Maníaco do Parque. Ele estuprou, torturou e matou pelo menos seis mulheres e atacou outras nove no Parque do Estado, em São Paulo. Submetidos ao teste PCL-R, Meira e Pereira apresentaram pontuações altíssimas e foram, portanto, considerados psicopatas.
Esse segundo julgamento ocorreu na 1º Vara do Tribunal do Júri de Salvador. A decisão atendeu aos pedidos do Ministério Público e da defesa de Meira, que afirmavam que ele não poderia responder pelos atos devido a distúrbios psicológicos.
Com a decisão, a defesa anunciou que vai pedir revisão do julgamento que o condenou em São Paulo. "Ele deverá permanecer em um hospital psiquiátrico onde poderá ter atendimento especializado de uma equipe multidisciplinar", diz o advogado Vivaldo Amaral.
Mateus está preso há 10 anos, sendo que no último ele ficou em um hospital psiquiátrico de Salvador, após a tentativa de homicídio contra Francisco Vidal Lopes, seu companheiro de cela. O crime ocorreu em maio de 2009. Meira usou uma tesoura utilizada nas atividades artesanais para agredi-lo na cabeça.
Em 3 de novembro de 1999, Meira entrou na sala 5 do cinema do Morumbi Shopping e, armado com uma submetralhadora 9 mm, atirou contra as pessoas que assistiam ao filme "Clube da Luta". Três pessoas morreram e quatro ficaram feridas.
Pelo crime, ele foi condenado inicialmente a 110 anos e seis meses de prisão. Em 2007, magistrados da 4ª Câmara Criminal do TJ (Tribunal de Justiça) de São Paulo reduziram a pena para 48 anos e nove meses. Na prática, acusado não poderá ficar na cadeia por mais de 30 anos, pena máxima permitida pela legislação brasileira.
Em fevereiro de 2009, ele foi transferido da Penitenciária 2 de Tremembé (147 km de São Paulo) para a prisão em Salvador após a Justiça acatar o pedido de seus pais, que moram na cidade.
24/10/2010 - 07h39
Atirador do shopping Morumbi revela "frieza" em cartas a travesti
ELIANE TRINDADE
DE SÃO PAULO
Enquanto cumpria pena em SP pelo assassinato de três pessoas num cinema do shopping Morumbi, Mateus da Costa Meira trocou 49 cartas com a travesti Alcione Carvalho. Entre maio de 2001 e outubro de 2003, revelou, no papel, frieza, inteligência e poder de manipulação.
Mateus da Costa Meira sendo encaminhado à delegacia após o crime; travesti diz que criminoso é frio e arrogante
Nas raras vezes em que trata do tema, banaliza o massacre contra a plateia indefesa, que lhe rendeu pena de 120 anos. "Se eu fizer uma bomba com explosivo plástico e implodir um shopping, eles vão continuar me achando normal", escreveu em 2001.
"Mostrei cópia das cartas, mas meu cliente diz que não se recorda de nada", diz Vivaldo Amaral, seu advogado. A pedido da Folha, o perito José Gonzalez analisou a grafia das cartas. Comparou-as ao manuscrito de Mateus anexado ao processo no STJ.
"Pela análise da gênese gráfica do autor, que é a digital da letra, as cartas foram escritas por Mateus", afirma. Mateus temia que a correspondência viesse a público.
Em 2002, pede: "Queime tudo: carta, bilhete, foto, receita, jornal, dinossauro, qualquer coisa escrita que se refere a mim." Alcione não acatou. "As cartas me pertencem. Ele queria destruí-las por mostrar como é perigoso." Parou de se corresponder por medo. "Temia que mandasse me matar", diz. Eles se conheceram oito semanas antes do crime. "Fui com uma amiga à Santa Casa, nos encontramos e trocamos telefones", diz Alcione.
A travesti testemunhou um período conturbado na vida do estudante, agravado pelo consumo de drogas. "Ele estava na farinha [cocaína]. Já não falava coisa com coisa. Sempre achava que tinha alguém atrás dele."
Alcione soube do crime pela TV. "Escrevi para entender. Mas ele é frio, arrogante e na loucura pode fazer mal a muita gente, mesmo preso." Depois de agredir com uma tesourinha um espanhol com quem dividia a cela, Mateus foi transferido para o hospital de custódia de Salvador. Para evitar que seja levado a novo júri popular, a defesa solicitou outro exame de insanidade mental. "Mateus tem graves transtornos mentais, e como tal é inimputável e deve ser submetido a tratamento", diz o advogado.
Sérgio Rigonatti --um dos psiquiatras que assinam o laudo no qual o atirador foi considerado imputável-- afirma que o fato de ele ter um transtorno de personalidade não o exime de responsabilidade. "Ele sabe diferenciar o certo e o errado."
Disponível em:http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/988890-atirador-de-shopping-e-considerado-inimputavel-em-crime-na-ba.shtml
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