domingo, 24 de abril de 2011
BRILHANTE, CUIDADOSO E SÁDICO: COMO INVESTIGAR UM SERIAL KILLER
Policiais fazem busca por corpos de vítimas de serial killer em Oak Beach, no estado de Nova York, EUA
Ele é provavelmente um homem branco com idade entre os 20 e 40 anos. Ele é casado ou tem uma namorada. Ele tem boa formação e fala bem. Ele está em situação financeira segura, tem um emprego e é dono de um carro caro ou picape. Ele pode ter buscado tratamento em um hospital para infecção por hera venenosa. Como parte de seu trabalho ou interesses, ele tem acesso a, ou um estoque de, sacos de estopa.
E ele mora ou costumava morar em Ocean Parkway ou arredores, na Costa Sul de Long Island, onde a polícia encontrou até 10 sacos de restos mortais humanos.
Em entrevistas com especialistas em assassinos seriais e criminologistas, incluindo um ex-perito do FBI, surge um retrato de um homem que os investigadores em Long Island acreditam ser responsável por vários dos corpos que descobriram no mato à margem da Ocean Parkway desde dezembro. Por ora, ele é conhecido pelo jargão policial de Unsub, ou “unknown subject” (sujeito desconhecido). Nenhuma prisão foi efetuada e nenhum suspeito foi identificado pelo Departamento de Polícia de Suffolk County, que está encarregado da investigação.
Traçar o perfil de assassinos seriais está longe de ser uma ciência precisa. Há quase 3 milhões de habitantes em Long Island, e o homem que matou pelo menos quatro prostitutas que postaram anúncios na Craiglist talvez seja um deles.
E os especialistas entrevistados estão esboçando um possível suspeito com base em detalhes do caso que foram revelados publicamente, como os sacos de estopa em que os corpos das quatro mulheres foram encontrados e a série de telefonemas de provocação que o assassino supostamente deu a um parente de uma de suas vítimas.
“É uma pessoa que pode entrar em uma sala e parecer um sujeito comum”, disse Scott Bonn, um professor assistente de sociologia da Universidade Drew, em Madison, Nova Jersey, e um pesquisador de assassinos seriais. “Ele tem que ser persuasivo o suficiente e racional o suficiente a ponto de convencer essas mulheres a se encontrarem com ele nesses termos. Ele demonstrou habilidades sociais. Ele pode até mesmo ser encantador.”
Uma das pistas mais importantes é onde os 10 sacos de restos mortais estavam localizados: em um trecho de 16 quilômetros de dunas remotas cobertas de heras venenosas, à margem de Ocean Parkway, em Jones Beach Island.
Ao escolher uma grande área de desova, o assassino se distinguiu dos últimos dois assassinos seriais condenados de Long Island, Joel Rifkin e Robert Shulman, que espalharam os corpos de suas vítimas por toda a região e Estado. A atração do assassino por uma área única, fora do caminho, sugere a vários especialistas que ele tem conhecimento profundo de Jones Beach Island em geral e de Ocean Parkway em particular.
“Ele não encontrou esse lugar por acaso”, disse um ex-perito, Jim Clemente, que se aposentou do FBI em 2009, como agente especial supervisor sênior da unidade de análise comportamental da agência, em Quantico, Virgínia. “Ele tem alguma familiaridade com ele.”
Apenas quatro dos 10 sacos de restos mortais foram identificados. Essas quatro vítimas eram todas prostitutas na faixa dos 20 anos. Cada uma delas foi declarada desaparecida no verão americano –9 de julho de 2007; 12 de julho de 2009; 6 de junho de 2010 e 2 de setembro de 2010. Os investigadores disseram acreditar que as quatro mulheres foram mortas pouco depois de seu desaparecimento ter sido relatado. Seus restos mortais foram encontrados em dezembro.
Os desaparecimentos no verão sugerem várias características. “Pode haver uma natureza sazonal à sua ligação com esta área, ou à sua fantasia e ritual”, disse Clemente. “Pode ser a época em que sua esposa, filhos ou pais estão viajando no verão. Há muitas possibilidades.”
Os sacos de estopa fornecem outra pista. Ele pode usar os sacos ou por serem parte de seu ritual de assassinato ou por serem o envoltório mais fácil que conseguiu encontrar. Mas a estopa não é mais um material comum, de modo que é mais fácil rastreá-lo do que um saco plástico. “Para mim, isso afasta a sofisticação forense e a sofisticação criminal e aumenta a possibilidade de ele estar mais interessado neste aspecto ritual”, disse Clemente.
Os investigadores acreditam que as mortes das quatro prostitutas foram obra de um assassino serial, mas não declararam publicamente uma ligação entre os quatro primeiros corpos de dezembro e os não identificados encontrados mais recentemente. Os restos mortais de uma criança podem estar entre os descobertos recentemente, aumentando a possibilidade de que as dunas podem ter sido usadas ao longo dos anos por mais de um assassino.
O assassino serial de Ocean Parkway é o terceiro conhecido a visar as prostitutas de Long Island em 22 anos. Rifkin, um jardineiro desempregado de 34 anos de East Meadow, confessou ter matado 17 mulheres entre 1989 e 1993, quando foi preso. Shulman, um funcionário dos correios de 42 anos de Hicksville, foi condenado por matar e desmembrar cinco prostitutas após ter sido preso em 1996.
Shulman morreu de causas naturais em 2006, enquanto cumpria pena de prisão perpétua. Rifkin, atualmente com 52 anos, está no presídio estadual Clinton, em Dannemora, Nova York, perto da fronteira canadense. Ele está cumprindo uma pena de 203 anos e terá direito a pedir liberdade condicional em 26 de fevereiro de 2197.
Além de visarem prostitutas, Rifkin, Shulman e o atual assassino têm características em comum. Todos os três são classificados por peritos em assassinos seriais como assassinos organizados.
Os assassinos seriais costumam ser definidos de modo geral como organizados ou desorganizados. O modelo de assassino desorganizado é Jack, o Estripador, o nome dado ao assassino serial não identificado de prostitutas em Londres, nos anos 1880. “Um assassino desorganizado será muito mais impulsivo e casual”, disse James Alan Fox, um professor de criminologia da Universidade do Nordeste, em Boston, que estuda assassinos seriais há 30 anos. “O assassino desorganizado é fácil de pegar. Muitos deles não fazem vítimas suficientes para serem definidos como assassinos seriais. É necessário certo grau de cuidado para acumular dezenas.”
Os assassinos organizados atuam com esse cuidado. Eles frequentemente levam vidas aparentemente estáveis e são metódicos, inteligentes e com boa formação (Rifkin frequentou a Universidade Estadual de Nova York, em Farmingdale, e Shulman foi estudante da Universidade Hofstra). E, assim como o assassino de Ocean Parkway, eles frequentemente têm conhecimento do trabalho policial e das técnicas periciais.
Alguns investigadores disseram que o assassino pode ser um agente da lei ativo ou que deixou o posto, porque os telefonemas que ele deu para um parente não duraram o suficiente para serem localizados, e foram feitos de Times Square e outros locais movimentados, o que dificultaria para as autoridades identificá-lo usando câmeras de vigilância.
Os três assassinos seriais de Long Island também podem compartilhar motivações semelhantes. Fred Klein, o ex-promotor público assistente de Nassau County que processou Rifkin, disse que Rifkin foi motivado a matar não por raiva ou vingança, mas por prazer. Antes de começar a matar prostitutas, Rifkin era obcecado pelo filme “Frenesi” (1972) de Alfred Hitchcock, sobre um assassino serial em Londres, e disse para as autoridades que costumava se masturbar assistindo as cenas em que as mulheres eram estranguladas.
“Era um sadismo psicossexual”, disse Klein, atualmente um professor assistente na Escola Hofstra de Direito. “Na maioria dos assassinatos há uma motivação adicional. Há o desejo de eliminar testemunhas, ou há uma briga, ou há o desejo de eliminar a pessoa por algum motivo, como quando um marido mata a esposa ou vice-versa. Rifkin matava pessoas apenas por matar. Ele tinha prazer sexual com o assassinato.”
Os especialistas em assassinos seriais dizem acreditar que o atual assassino é alimentado por impulsos semelhantes, como demonstrado pelo seu desejo de telefonar para a irmã adolescente de uma de suas vítimas –usando o celular da vítima– e provocá-la. “Isso me dá uma idéia de que é sádico”, disse Clemente. “Isso estaria refletido em seu relacionamento e empregos. Ele é o sujeito que ri quando um gato é atropelado ou uma criança cai da bicicleta. Ele gosta do sofrimento dos outros e realmente gosta quando pode causá-lo ou testemunhá-lo.”
Rifkin ofereceu recentemente sua opinião sobre quem ele acredita ser o assassino, em entrevistas na prisão para os repórteres. Ele disse ao “Newsday” na semana passada que acredita que o assassino seja um morador local, que tem um emprego no qual ninguém suspeitaria caso o visse carregasse sacos de estopa. “Meu palpite”, disse Rifkin ao jornal, “é que é alguém como um jardineiro, pedreiro ou pescador”.
Tim Stelloh contribuiu com reportagem.Tradução: George El Khouri Andolfato
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