quarta-feira, 14 de julho de 2010
O ERRO DE DESCARTES (Sugestão de Literatura)
O livro O erro de Descates (Companhia das Letras)do neurocientista Antonio Damásio é uma boa literatura para compreender onde se encontram as deficiencias neurofisiológicas no cérebro de um psicopata.
Logo nos primeiros capítulos ele fala sobre um dos casos mais famosos da neurociência: Phineas Gage. Phineas Gage foi um australiano que viveu em meados do século XIX. Segundo relatos da época, ele era um homem muito gentil que trabalhava na construção de ferrovias. Após um acidente em 1848, envolvendo explosivos, uma barra de ferro atravessou sua cabeça. atingindo o cérebro (parte pré-frontal). Felizmente ele foi socorrido na hora e conseguiu sobreviver. Mas ele não só sobreviveu como não ficou com nenhuma sequela aparente (exceto por um olho que ele perdeu). Visão, fala e movimentos perfeitos. Entretanto, logo depois de recuperado, Phineas Gage teve seu comportamento completamente alterado: começou a usar palavrões, fazia comentários cruéis desnecessários, tratava mal as pessoas, e fazia péssimas decisões que não levavam em conta as consequências. Morreu pouco mais de 10 anos depois pobre e sozinho. Na época, um médico estudou o seu caso, e é graças a ele que temos todas essas informações.
O caso Phineas Gage é importante pois foi o primeiro caso que mostrou que emoção e comportamento estão sim associadas a uma parte específica do cérebro.
Reconstituição da passagem da barra de ferro no cérebro de Gage
No livro, Damásio ainda fala de um caso semelhante ao de Phineas Gage que ele teve a oportunidade de estudar, o caso de Elliot. Elliot sofreu um acidente semelhante ao de Phineas Gage, demonstrando os mesmos sintomas. Damásio aproveitou a chance para estuda-lo. Fez diversos testes de QI, além de outros tipos de testes de inteligência. Surpreendentemente, Elliot se saia muito bem, às vezes melhor do que a média da população, provando que era dono de um intelecto saudável.
Ao longo da convivência com Elliot, Damásio se deu conta que Elliot contava sobre a tragédia da sua vida de forma impassível. Com o passar do tempo, notou que Elliot quase nunca se zangava, nem se incomodava com as milhares de perguntas repetitivas de Damásio. Num outro teste, foi colocado estímulos visuais carregado em frente de Elliot como: pessoas se afogando, incêndios terríves e terremotos horríveos. Nisso, Elliot, impassivo, fez um comentário que abriu os olhos de Damásio: sinto que meus sentimentos mudaram após o acidente. Ou seja, Elliot se deu conta que coisas que antes lhe causavam emoções fortes, agora não lhe causavam nenhuma reação, nem positiva, nem negativa.
Imagine que sua comida favorita, a música que você mais gosta, seu filme predileto, nada disso te desperta mais nenhuma emoção. Você agora está para sempre destituido da possibilidade de curtir o que você gostava, e ao mesmo tempo, consciente de que aquilo outrora te divertia. Em suma, o estado de Elliot pode ser resumido como saber mas não sentir.
De fato, segundo Damásio, nenhuma emoção era muito intensa em Elliot, nem tristeza nem alegria. tanto o prazer como a dor pareciam ser de curta duração.
Essa falta de sentimentos leva o doente a não se importar muito com a sua decisão e portanto, fazer decisões ruins.
PS: O livro se chama o erro de Descartes porque Descartes acreditava que o corpo era separado da mente. A mente só precisava do corpo para poder funcionar, fora isso, não havia nenhuma conexão entre eles. Mas Damásio acredita justamente o contrário, que corpo e mente estão intimamente conectados: a mente comanda o corpo inteiro, mas são as sensações que o corpo manda para mente que induzem a mente funcionar daquela maneira, contrapondo o dualismo cartesiano no qual a alma (razão pura) é independente do corpo e das emoções.
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