Comentários de Gustavo Catão
Diferente dos filmes de psicopatas adolescentes que matam casais de namorados por ordem de cachê, “Seven” segue a outra linha de enredos de serial killers hollywoodianos. Estou falando daquela categoria igualmente clichê de filmes policiais onde o grande detetive tem de desvendar pistas obscuras para capturar o assassino antes que este faça outra vítima. Mas “Seven” se destaca entre seus “companheiros” de enredo com seu bom, sólido e, principalmente, perturbador roteiro. Fugindo à regra de que todo grande policial precisa dar grandes “sacadas” para seguir a trilha do bandido (como nos repetitivos “O Colecionador de Ossos”, “Ressurreição Retalhos de Um Crime”, “Beijos que Matam” e a lista não acaba mais), vemos em “Seven” policiais que, apesar de darem suas “sacadas”, realmente ficam perdidos e desorientados ao enfrentar um assassino metódico e muito, muito cruel.
A história se passa numa chuvosa e cinzenta Los Angeles. O detetive Somerset (interpretado pelo veterano Morgan Freeman, de “Crimes em Primeiro Grau”) está a uma semana de se aposentar e, em sua última investigação, ajuda o detetive Mills (Brad Pitt), novato na cidade, a se familiarizar. Mills acabou de chegar com sua mulher (interpretada pela bela Gwyneth Paltrow) à Los Angeles, após trabalhar alguns anos no interior. Juntos, Mills e Somerset vão investigar uma desagradável cena de crime onde um homem imensamente gordo foi amarrado e, aparentemente, obrigado a comer até a morte. Atrás da geladeira eles encontram, escrita em gordura, a palavra “GULA”. Pouco tempo depois um famoso advogado da cidade é violentamente assassinado, e a palavra “COBIÇA” está pintada na parede, com seu próprio sangue. Somerset, após anos de experiência, percebe que se trata de um assassino serial que estaria matando pessoas de acordo com os sete pecados capitais: gula, cobiça, preguiça, luxúria, vaidade, inveja e ira. A perseguição então se torna uma “visita” a mente de um psicopata e aos mais profundos esconderijos da maldade humana, em uma seqüência de crimes extremamente perturbadora e chocante, que deixou muita gente sem dormir depois do filme. O toque final nessa obra de arte é por conta de Kevin Spacey, que nos dá uma aula de interpretação fazendo o papel do assassino, John Doe (curiosidade: John Doe é um nome usado no jargão policial para identificar um desconhecido, um “Zé Ninguém”).
Brad Pitt está em ótima forma no filme. Seu papel é exigente e ele o faz muito bem, mostrando que tem talento para papéis sérios e psicológicos. Morgan Freeman também faz uma ótima atuação encarnando o policial experiente que já está cansado daquele trabalho, apesar do ator já ter repetido esse papel vezes demais (prestem atenção à cena de Freeman na biblioteca, talvez uma das mais reflexivas do filme). E, como já dissemos, temos um pouco de Kevin Spacey, na sua melhor forma, lá pelo final da fita. A cara de indiferença do ator caiu como uma luva no papel do frio psicopata.
”Seven” é com certeza um filme de peso. Ele é bem reflexivo e angustiante. Toca em assuntos pesados, faz o espectador pensar em coisas que, só de lembrar, deixam-no arrepiado (quem mandou escrever essa crítica à noite?). O enfoque psicológico do filme foi feito sob medida para deixar todo mundo deprimido, achando que o mundo é um lugar horrível de se viver. Tudo isso é graças à David Fincher, diretor dos também bem sucedidos “Clube da Luta” e “O Quarto do Pânico”, que sabe como criar um filme pesado, um cenário deprimente e sujo, enfim, tudo que se precisa quando se quer falar do bestialismo da natureza humana.
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário